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Monção: Há 108 anos chegava o primeiro comboio

Monção

Monção: Há 108 anos chegava o primeiro comboio

Aconteceu no dia 15 de junho de 1915. O comboio chegava pela primeira vez a Monção. 

 

“A vila estava toda iluminada. Houve muito fogo e uma grande concorrência de povo”, conforme escreveu a imprensa da altura.

 

Nos finais do século 19, já se reconhecia a necessidade de continuar a Linha do Minho de Valença até Monção e Melgaço, devido à riqueza desta região. As estâncias termais estavam na moda.

 

Um relatório de 3 de Julho de 1889 defendeu a construção da linha, que foi definitivamente planeada até Monção em 1895, e classificada como via larga no Plano da Rede de 15 de Fevereiro de 1900.

 

No entanto, os interesses locais discordaram desta decisão, preferindo a utilização de via estreita; com efeito, já em 22 de Novembro de 1894 tinha sido autorizada a construção de um caminho de ferro de bitola estreita, do tipo americano e com via instalada no leito das estradas.

 

Este empreendimento tinha falhado, devido à situação económica do país, que tornava difícil a obtenção de capitais. Assim, os protestos foram ignorados, e uma portaria de 5 de Março de 1904 ordenou a realização dos estudos para via larga.

 

Este caminho de ferro foi construído pela divisão de Minho e Douro dos Caminhos de Ferro do Estado, tendo o troço entre Lapela e Monção entrado ao serviço em 15 de Junho de 1915.

 

 

 

 

Grande festa em Monção

“A inauguração do novo troço da linha férrea que vai da Lapela a Monção realizou-se solenemente no dia 15 de junho, com uma festa brilhante promovida pela Câmara Municipal”, escreveu ainda a imprensa da época.

 

Momento da chegada do primeiro comboio a Monção

[créditos: José António Barreto Nunes/Grupo FB Os Amigos de Monção]

 

 

Altas individualidades à chegada do primeiro combóio em Monção

[créditos: José António Barreto Nunes/Grupo FB Os Amigos de Monção]

 

 

Várias individualidades vindas de todo o País marcaram presença nesta vila raiana. Saudaram o povo eufórico e foram saudados.

 

Afinal de conta, lê-se, o comboio era um grande anseio que se arrastava há anos pelos monçanenses.

 

“Era ardente desejo daqueles povos ligar a cabeça do seu concelho com a linha férrea do Alto Minho, empreendimento relativamente fácil, e porque vinham há anos pugnando as classes e vultos de mais representação na terra”, lia-se nos jornais.

 

No entanto, eram “desejos” a que “a malfadada política ia opondo obstáculos de toda a ordem”.

 

Mas Monção conseguiu. O dia era de festa.

 

Para trás tinha ficado um famoso projeto para uma estação de caminhos de ferro mais vistosa. Nunca chegou a avançar (mas a alegria era tanta que já ninguém se lembraria disso).

 

 

Projeto inicial para a Estação de Monção

[créditos: Fernando Guedes/Grupo FB Os Amigos de Monção]

 

 

Enorme alegria entre o povo de Monção com a chegada do comboio

[créditos: José António Barreto Nunes/Grupo FB Os Amigos de Monção]

 

 

Icónica imagem do comboio no cimo das muralhas de Monção

[Fotografia: DR]

 

 

 

Muita atividade

Durante praticamente todo o século 20, esta estação sempre foi um espaço de grande movimento.

 

O Canal Linha 2, da plataforma YouTube, disponibilizou um vídeo gravado 1969, onde mostra a circulação de comboios em Monção.

 

Imagens a cores, com mais de meio século, onde é possível observar o trânsito ferroviário naquela estação que seria desativada precisamente 20 anos depois. No mesmo vídeo, logo no início, é também possível ver uma panorâmica da estação de Valença.

 

A estação ferroviária de Monção em 1969

 

 

 

 

[créditos: Fernando Guedes/Grupo FB Os Amigos de Monção]

 

 

[créditos: Fernando Guedes/Grupo FB Os Amigos de Monção]

 

 

 

“Até os carris levaram”

Chegou então aquele ano de 1989. Para grande tristeza do povo, a gare ferroviária foi desativada.

 

Nove anos depois, em 1998, o historiador José Hermano Saraiva deslocou-se a Monção onde gravou um programa inteiramente dedicado ao concelho. Começou precisamente pela estação ferroviária já desativada.

 

“Antigamente chegava aqui o caminho de ferro. Isto era uma festa. Iam mercadorias… ia o vinho… havia gente e romarias. Agora até os carris levaram”, lamentou enquanto a câmara mostrava imagens de um edifício deixado ao abandono.

 

“Há nove anos que a estação está fechada e a apodrecer! Em nove anos não arranjaram maneira de dar um destino novo à estação”.

 

“Esta situação repete-se em muitos pontos do país! Fecham as linhas. Fecham as estações. E há belas casas que podiam servir para muita coisa até porque também têm interesse histórico”, alertou José Hermano Saraiva. “O comboio também faz parte da nossa história!”, defendeu.

 

 

 

Finalmente uma nova vida

José Hermano Saraiva faleceu 14 anos depois, em 2012. E teriam de passar mais cinco anos para que finalmente o edifício da antiga estação ferroviária de Monção conhecesse uma nova vida.

 

Foi a 25 de abril de 2017 que aquele espaço se tornou aquilo que ainda hoje continua a ser: a sede da Banda Musical de Monção.

 

“Regozijo-me especialmente por Monção ter tido a audácia de requalificar esta centenária estação para que agora seja a casa de quem merecia”, disse na altura o Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, sem nunca perder o sorriso aberto perante a multidão que o ouvia em pé.

 

O Município era então liderado por Augusto Domingues.

 

 

Inauguração da nova sede da Banda Musical de Monção em abril de 2017

[créditos: Município Monção]

 

 

 

Depósito de água e armazém sobrevivem

Entretanto, em outubro desse mesmo ano, António Barbosa passa a liderar o Município de Monção.

 

O novo edil monçanense fez questão de preservar ainda mais a memória daquele espaço, nunca esquecendo o alerta deixado por José Hermano Saraiva.

 

Em finais de 2018, foi dada como concluída a recuperação total do antigo depósito de água.

 

“Valorizamos a memória coletiva dos monçanenses e embelezamos uma área que, no futuro, será objeto de uma profunda intervenção de revitalização urbana”, congratulou-se o novo presidente da Câmara.

 

 

 

[Fotografia: Município Monção]

 

 

Nova vida para o antigo armazém

Seguiu-se o antigo armazém que esteve em risco de ser demolido. Em dezembro de 2019, o Executivo social-democrata anunciou que o espaço iria dar origem a uma incubadora de empresas. 

 

Assim foi.

 

No dia 5 de outubro de 2022 nasceu o Habitat Criativo de Monção. No total são 24 gabinetes disponíveis com preços considerados “acessíveis”: nos 16 gabinetes partilhados, a mensalidade é de 25 euros; nos oito gabinetes fechados é de 50 euros.

 

 

[Fotografia: Município Monção]

 

 

E a Linha do Minho? Essa ficou por Valença, e enfrenta hoje outras batalhas. Uma das maiores é a Alta Velocidade.

 

 

 

[Fotografia de capa: José António Barreto Nunes / Grupo FB Os Amigos de Monção]

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